Nas plataformas de streaming, no cinema ou na tevê fica claro que temos poucas opções de acesso ao nosso cinema nacional. E o potencial de nossa cinemalidade fica jogado às traças. Há um grande abismo entre o estado atual na cadeia tradicional de distribuição e o que seria ideal para o cinema brasileiro.
Mesmo com as leis de incentivo e iniciativas como a “Lei da TV Paga“, o que se vê, no geral, é a baixa receptividade do público, tanto na tevê quanto nas salas de cinema.
A indústria estrangeira tem ditado as regras há tempos, e só as produtoras que conseguem imitá-la e que atingem um bom número de espectadores. O restante das obras nacionais fica fechada ao público de festivais e apenas algumas são compradas por canais específicos por assinatura. É um círculo vicioso que resulta na falta de interesse em investir no cinema nacional – seja na produção, divulgação ou na distribuição – e na falta de interesse em consumi-lo, seja pelo costume ou pela dificuldade em encontrar uma sessão.
Criado junto com a internet e com a ajuda dos nossos amigos da baía dos piratas logo me tornei um cinéfilo de carteirinha - devorando filmes e mais filmes e lotando discos rígidos. Estava me apaixonando pela sétima arte e conhecendo o poder do audiovisual; fiz os vídeos da formatura, editei videoclipes para amigos, fiz um curta para o festival de cinema da cidade e quase entrei num curso de cinema depois que terminei o colégio.
O fato é que a gente cresce é o nosso gosto por entretenimento muda também. Queremos mais, queremos pensar junto, queremos ir mais longe. A sétima arte que eu achava que conhecia eram apenas os mesmos filmes hollywoodianos com roteiros da jornada do herói de sempre. Veio a fase de assistir só documentários, do cinema francês, do cinema argentino e latino-americano. Por último, comecei a apreciar os filmes punks de baixo orçamento e de experimentar todas as produções pra lá de independentes que encontrasse na internet. Logo minam as certezas e o que gostamos é jogado em um liquidificador para lá e para cá.
Mas, claro, o problema não mora nos diferentes sabores da arte; a variedade é inerente a sua beleza, mesmo que existam tipos dela mais difíceis de entender que o próprio conceito de cultura.
O problema, a meu ver, é sobre quem a fabrica, e, claro, sobre quem a entrega.