O modelo de negócios da maioria das empresas de internet hoje é simplesmente baseado em combinar as preferências do usuário com anúncios em seus serviços. Grandes empresas “de inovação” que resumem todo seu aparato tecnológico no mais básico instrumento capitalista: a publicidade.
Para que isso ocorra, essas corporações vêm criando métodos de coleta de todos os rastros digitais deixados pelos usuários. Absolutamente tudo pode ser usado: Logs da conexão, tamanho da tela, tipo de dispositivo, análise textual de emails privados, locais onde esteve através do do GPS e até os movimentos que você faz com o mouse durante a nossa navegação.
Essa coleta tem sido feita e aperfeiçoada aliando conhecimento da área de ciência de dados, machine learning e inteligência artificial, e usada muitas vezes de forma não ética e até criminosa.
Esses foram os livros que me acompanharam nesse ano doloroso de 2018, em ordem cronológica de término. Em negrito estão os livros que mais gostei. Gostaria de ter lido mais, mas outros projetos me tomaram o tempo, e principalmente a “qualidade da vista”.
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Olá, amigxs! Deixa eu contar para vocês que ainda no mês de Fevereiro deste ano me deparei com uma pequena - mas poderosa - falha em um dos sistemas do Centro Universitário Uninter, um dos maiores centros universitários do Brasil.
A vulnerabilidade estava em um dos portais que recebe inscrições de alunos contemplados com bolsas estudantis por programas do governo, sendo, então, a ponte de acesso dos estudantes, os quais devem submeter seus documentos para serem analisados pelos funcionários da faculdade.
Na lista de documentos a serem enviados à análise estão:
entre outros.
O ruim é que, atualmente, essa gama de documentos é a que possibilita quase todas as relações entre o cidadão e outras instituições.
A quarta temporada de Black Mirror estreou mês passado e trouxe novos - e mais leves - contos trazendo verdades sobre o nosso uso da tecnologia e onde isso pode nos levar.
Assisti ao primeiro episódio, USS Callister, e não pude deixar de lembrar de uma leitura recente que fiz, o pequeno memoir A Lição Final de Randy Pausch.1
O livro em si e as circustâncias de sua criação nos contam uma história tão boa quanto USS Callister, e com temas em comum: mundos em realidade virtual, programação, referências a Star Trek e finais felizes, apesar de tudo.
Randy era professor de Ciência da Computação na Carnegie Mellon University e lá criou o Entertainment Technology Center (ETC) e inicou o projeto do software Alice, contribuindo durante a carreira com empresas como Google, EA, Walt Disney e Adobe.
Ele foi pioneiro na área de realidade virtual, viajando e lecionando sobre o assunto. Achei muito legal as matérias daquela época. Entre outras, ele fora professor em 1990 de “Gráficos Computacionais”, em 92 de “Realidade Virtual” e em 98, na Carnegie Mellon, ministrou uma cadeira chamada “Construindo mundos virtuais”.2
Entre um dos seus mundos virtuais favoritos que construiu estava a sala de comando da USS Enterprise.
Em 2008, infelizmente, Randy partiu em decorrer de um câncer pancreático. Esse câncer é um dos mais fatais, onde apenas 25% dos pacientes diagnosticados sobrevivem mais de um ano e apenas 5% sobrevive mais de 5 anos.3 Randy recebeu o diagnóstico em Agosto de 2006, mas como cientista que era, pesquisou e conversou com todos os médicos que podia para tentar uma cura, ou ao menos garantir mais tempo de vida para ficar com sua família.
Além de um acadêmico racional, Randy também era, desde pequeno, um grande sonhador. Ao invés de se entregar a sua doença, decidiu fazer um último projeto ambicioso antes de partir: dar algumas palestras e escrever um livro. Queria deixar um legado, acima de tudo, para os seus filhos - no livro e na palestra falaria sobre a vida, e não sobre a morte.
Um mês depois do diagnóstico deu uma palestra para um auditório lotado em sua universidade, sua “Last Lecture”, sua lição final. Nela, de forma energética e magistral, Randy contou um pouco mais sobre sua família, sobre seu trabalho e principalmente o que o movia. Ele faz um balanço daquilo que ele considerava o verdadeiro medidor de “sucesso” enquanto estamos nesse mundo: realizar os seus sonhos de infância.
Seus sonhos de infância eram muito bacanas e Randy cumpriu praticamente todos eles. Sendo criança no final dos anos 60, Randy queria viajar na gravidade zero, ser o capitão Kirk (ele cumpriu esse conhecendo o capitão Kirk e sendo convidado, pelo JJ Abrams, em 2007 para uma pequena cena no filme de Star Trek), além de ser um dia um Imagineer da Disney.
Depois que a palestra ocorreu, Randy terminou de escrever o seu livro e ele foi lançado. Simples, acessível e daqueles que dá para ler em uma manhã de domingo, A Lição Final me trouxe realmente várias lições sobre a vida, carreira acadêmica, o envelhecer homem, o ser pai e até como ser um bom marido. O livro tem algumas questões clichês e alguns pontos com um toque american way of life, mas ainda assim, ver o mundo com os olhos do Randy amadureceram-me por dentro. As melhores lições que aprendi nessa seu última aula foram a de que devemos aproveitar cada momento e também carregarmos firmes nossa criança interior em tudo que fazemos.
O livro e a palestra (disponível no YouTube) de Randy realmente são uma linda lição de um grande homem, um ótimo professor e um visionário tecnologista. Mesmo tendo partido dessa realidade espero que num futuro próximo esbarremos com Randy em qualquer mundo virtual por aí.
Nota: Só consegui ler esse livro porque ele estava disponível na biblioteca de minha universidade, UTFPR, graças a doação de Aline Rafaela de Almeida. Valeu, Aline!
Randy Pausch e Jeffrey Zaslow; A Lição Final. Tradução de Laura Alves e Aurélio Rebello - Rio de Janeiro, Agir, 2008. ISBN: 978-85-2200-920-6 ↩
Currículo do Randy em seu site pessoal. Disponível em https://www.cs.cmu.edu/~pausch/Randy/Randy/Vita.html ↩
Cancro do pâncreas, Wikipédia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Cancro_do_pâncreas ↩
Na semana passa recebemos um pedido de remoção de conteúdo por “disponibilização indevida de produto” no Libreflix. :/
O “pedido” foi enviado pelo Canal Brasil, canal pago que integra os canais de tevê por assinatura da Globo.
A notificação veio por e-mail e o assunto foi “Notificação Extrajudicial” e meu deu um baita gelo na espinha. Eles pediram que o Libreflix.org removesse o filme “Serra Pelada - A Lenda da Montanha de Ouro” de Victor Lopes em até 48 horas.
O pior foi que o e-mail chegou na sexta-feira passada, dia 10, sendo que estou sem acesso a internet banda larga em casa.
Pra não chegar nem perto de estourar o prazo fiz tudo pelo celular. Usando o 2G e o termux tive que logar no server e editar o banco de dados na mão pra remover a obra.
A obra foi enviada por um usuário e disponibilizada com o uso da YouTubeIframeAPI, o que significa que a gente só incorporava a obra diretamente do YouTube, sendo eles, então, os responsáveis por remover o conteúdo! Os termos de uso do YouTube são claros:
4A. You agree not to distribute in any medium any part of the Service or the Content without YouTube’s prior written authorization, unless YouTube makes available the means for such distribution through functionality offered by the Service (such as the Embeddable Player).
O utilização da YouTubeIframeAPI é apenas um uso mais robusto e funciona como um “player incorporado”, sendo aquele que incopora apenas o replicante de um hyperlink multímidia ao transmissor original do conteúdo.
Em uma correlação: faria sentido o Grupo Globo enviar o pedido de remoção de conteúdo para um blog que, por exemplo, incoporasse o vídeo em um post?
Sem cabeça para argumentar por e-mail por já estar atolado com os estudos só restou dizer adeus ao documentário, que, diga-se de passagem, é um baite filme e retrata a feroz e desumana corrida do ouro que ocorreu nos anos 80.
Ah é! A versão subida no YouTube está no ar desde 2014 e pode ser acessada aqui: https://www.youtube.com/watch?v=mSDh86t2nG0
Criado junto com a internet e com a ajuda dos nossos amigos da baía dos piratas logo me tornei um cinéfilo de carteirinha - devorando filmes e mais filmes e lotando discos rígidos. Estava me apaixonando pela sétima arte e conhecendo o poder do audiovisual; fiz os vídeos da formatura, editei videoclipes para amigos, fiz um curta para o festival de cinema da cidade e quase entrei num curso de cinema depois que terminei o colégio.
O fato é que a gente cresce é o nosso gosto por entretenimento muda também. Queremos mais, queremos pensar junto, queremos ir mais longe. A sétima arte que eu achava que conhecia eram apenas os mesmos filmes hollywoodianos com roteiros da jornada do herói de sempre. Veio a fase de assistir só documentários, do cinema francês, do cinema argentino e latino-americano. Por último, comecei a apreciar os filmes punks de baixo orçamento e de experimentar todas as produções pra lá de independentes que encontrasse na internet. Logo minam as certezas e o que gostamos é jogado em um liquidificador para lá e para cá.
Mas, claro, o problema não mora nos diferentes sabores da arte; a variedade é inerente a sua beleza, mesmo que existam tipos dela mais difíceis de entender que o próprio conceito de cultura.
O problema, a meu ver, é sobre quem a fabrica, e, claro, sobre quem a entrega.